Um amigo meu tinha uma família mesmo sui generis. Pois todos tinham morrido de mortes estúpidas. Ele próprio por exemplo morreu há 267 dias, número um tanto estúpido diga-se, afogado numa piscina para crianças. Eu explico: teve uma vontade irresistível de molhar os pés na água quentinha da piscina dos catraios. Um disparate, penso eu, porque a temperatura é assim por eles mijarem para lá, mas ok. Entrou lá para dentro mas no imediato sentiu-se tão embaraçado por ver os olhares para si dirigidos pelos restantes pequenos e pelos adultos que escorregou e bateu com a cabeça na borda da piscina. Ao bater com a cabeça acabou por mergulhar involuntariamente numa profundidade de 60 cm. Quando as outras pessoas foram socorrê-lo ele estava plenamente consciente, ainda que submerso na água. Ao sentir os braços das pessoas a puxá-lo para fora e aquelas vozes pouco nítidas que se ouvem quando estamos mergulhados, sentiu-se tão embaraçado que resistiu ao socorro acabando por morrer de asfixia. Mais tarde a autópsia concluiu que o embate não tinha causado qualquer traumatismo, estando longe de ter contribuído para o seu funesto fim.
O pai teve uma morte mais acidental mas não menos aparatosa. Engasgou-se a comer uma sande de presunto. Cá para nós ele até podia ter sido salvo, mas o homem da ambulância quando chegou e viu meia sande ainda por comer de presunto pata negra, não esteve com meias medidas: comeu primeiro o resto da sande, ainda o pobre tossia roxo. Só depois o levou para o hospital já ele tinha abafado pelo caminho.
A mãe tinha morrido num acidente de airbus, ainda em pleno aeroporto quando o veículo em que seguia bateu contra a porta de saída da garagem do aeroporto, pois uma pomba tinha accionado o comando.
Um irmão dele morreu de desidratação num dia de inundações causadas pela chuva. As causas de desidratação são ainda desconhecidas.
Uma frase que me vem à mente deste meu amigo é "o destino é uma coisa com graça". No caso dele é mesmo verdade.
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